Gostava que as professoras fossem directas e indicassem exactamente os problemas que se passam nas escolas. Mas não tenho tido essa sorte. Por acaso descobri este artigo que transcrevo em parte do qual foco algumas frases. Fui professora durante 3 anos, tendo passado tanto pelo ensino público como privado, diurno e nocturno.
Antes disso fui aluna durante 18 anos. Acho que tenho experiência suficiente para falar sobre o ensino em Portugal.Tal como em muitas outras coisas no nosso país,
o ensino é estupidamente mal organizado.
…
Depois temos os alunos. Aqui as coisas complicam-se.
Há sempre, em cada turma, dois ou três elementos perturbadores. Especialmente até ao 9º ano. Aqueles miúdos mal-educados que já repetiram aquilo não sei quantas vezes e que não querem saber de coisa nenhuma.O desrespeito à autoridade tem vindo a aumentar e grande parte disso deve-se às regras de conduta que foram impostas aos professores.Não sou a favor de bater nas crianças. Quando eu andava na primária ainda estava instituída a norma da reguada e nunca achei correcto.Mas têm-se retirado cada vez mais poderes aos professores que tentam desesperadamente manter um ambiente de aula civilidado, onde consigam fazer o seu trabalho.Por exemplo,
por um aluno na rua, a forma mais rapida e eficaz de resolver o problema quando as chamadas de atençaão não funcionam,
deixou de ser possível. Foi instituída a regra que diz que o professor tem que passar um trabalho para o aluno fazer enquanto está fora da sala de aula e um empregado deve acompanhar o aluno à biblioteca. No final da aula o aluno deve regressar à sala e o trabalho deve ser avaliado.Por quê? Porque os profs perceberem que os piores elementos da turma querem mesmo é ser postos lá fora e ir passear. E arranjaram este esquema para terem efectivamente um castigo em vez de uma prenda para quem se porta mal. Ora bem, no papel parece tudo muito bonito. Mas na pratica não funciona.É necessário interromper a aula enquanto se escreve o enunciado do exercício a fazer, chamar um empregado - e geralmente não há nenhum no piso inteiro porque aproveitou o tempo para ir beber um café - e dá mais trabalho do que mandar calar outra vez e esperar que pegue.
Entretanto, a restante turma de meninos bem comportados, perde meia hora de aula. E se já é difícil faze-los entender uma linha de raciocínio de seguida, com interrupções constantes é impossível.Para além disso, não se leva a sério as faltas de disciplina. Para um aluno ser suspenso 3 dias é quase preciso matar alguém.Ou seja, vale a pena fazerem o que quiserem.Eu entendo que muitos destes miúdos têm uma vida lixada. Comportam-se como animais selvagens porque nunca ninguém quis saber deles para nada. E como os pais se estão nas tintas, os professores, que se acham mais iluminados, tentam ser eles a resolver o problema e salvar a criança.
O que cria grandes injustiças para com os outros miúdos que se calhar também queriam ir passear mas que até acabam por se portar bem.
(mas às tantas acabam por aprender a portarem-se mal).As reuniões de professores são quase exclusivamente dedicadas àqueles dois ou três elementos perturbadores, com cada prof a contar a sua história. Os bons alunos não merecem atenção.E no fundo é disso que se trata. Um miúdo que não tem atenção em casa, consegue-a na escola. E isso dá-lhe poder. E as regras são todas feitas à volta do coitadinho.E, ainda por cima, os professores acabam por passar estes alunos de ano sem eles terem feito trabalho nenhum. Porque se criou mais uma regrazinha interessante: Para um aluno repetir 3 anos é preciso escrever um relatorio super extenso e bastante complicado, a explicar a situação. Ou seja,
dá menos trabalho ir a votos e deixar o sacana passar de ano do que lidar com a burocracia. É lindo!E é claro que isto causa alguns problemas internos. Porque toda a gente na escola conhece os terrorzinhos. E se a turma do terrorzinho número um vota em passá-lo de ano e a turma do terrorzinho número dois vota em deixá-lo repetir mais um anos, a directora de turma do terrorzinho número dois não consegue evitar andar pela escola toda a gritar que não há justiça. Porque no fundo foi ele que se lixou.E como podem ver, estes miúdos são o centro das atenções. E aqueles que, como eu, fizeram todo o esforço por se portar bem e cumprir as regras mas ainda se lembram das pestes dos seus colegas, quando chegam a professores só querem é dar um bruto enxerto de porrada a estas pestes. Quero lá saber que ele já leve em casa.
E é assim o ensino em Portugal...