januaria e helena

quinta-feira, março 24, 2005

ESPERANÇA

A esperança é a última a morrer

A propósito
mais uma vez
e mais vezes haverá
António Gedeão

DEZ RÉIS DE ESPERANÇA

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue

António Gedeão (1958)

1 Comments:

  • Então aqui vai esta do amigo António Aleixo:

    Após um dia tristonho,
    de mágoas e agonias
    vem outro alegre e risonho:
    são assim todos os dias.

    Pois são...

    By Anonymous Anónimo, at 25/3/05 17:04  

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